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Tecnologia e informação de qualidade são duas peças do mesmo puzzle para Nic Newman. A ideia passa por usar as novas tendências a favor do jornalismo. No entanto, adverte um dos fundadores do site da “BBC News”: “Devemos ter uma visão muito clara do que queremos, do que defendemos e de quais são os nossos valores”.
Nic Newman, que é consultor especialista em estratégia no mundo digital, partilhou este sábado a sua visão do jornalismo do futuro. Com a tecnologia como pano de fundo, Newman descreveu novos possíveis modelos de negócio e deixou pistas para afirmarmos o jornalismo.
Nic Newman veio ao 4.º Congresso dos Jornalistas falar acerca da viabilidade económica no jornalismo. Para si, quais os modelos de negócio mais promissores nesta área?
Atualmente não existe um modelo de negócios que funcione para todos. Trata-se de um momento complexo para o jornalismo. Os modelos antigos estão ultrapassados e não temos novos bons modelos que se adequem ao mundo digital. Os novos paradigmas vão passar por uma combinação de várias opções.
Pode dar-nos alguns exemplos?
As empresas podem produzir algo que as pessoas estejam preparadas para pagar. Há as opções de subscrição ou a participação como sócio, caso as pessoas apoiem a ideia da empresa. A publicidade digital continuará a dar alguma receita, mas haverá outros tipos de publicidade. Por exemplo, os conteúdos patrocinados – o que levanta algumas questões éticas –, a realização de eventos ou a publicidade em vídeo.
Que modelos de financiamento serão os primeiros a desaparecer no curto prazo?
As campanhas de publicidade display estão ultrapassadas. A ideia de uma publicidade adjacente aos conteúdos funciona bem no papel, porque temos o anúncio ao lado do texto. A transposição desta publicidade para o computador já não funciona tão bem. Ora, quando passamos para os ecrãs mais pequenos, como o telemóvel, obviamente que esta publicidade lateral já não é solução e os pequenos banners interropem a leitura; não fazem sentido nenhum. Se pomos publicidade a tapar a informação que as pessoas querem ver, as pessoas odeiam. Estamos a tentar usar os modelos de funcionamento do papel à força no meio digital e isso não funciona. Pode não acabar amanhã, mas acredito mesmo que as campanhas de publicidade display vão ser substituídas por outras soluções.
Fala dos modelos ultrapassados, mas costuma descrever-se como otimista.
Sim. Absolutamente. Sou otimista em relação ao jornalismo, sou otimista em relação à tecnologia.
Como acha, então, que a tecnologia pode ser benéfica para um jornalismo de qualidade?
Temos a tentação de dizer que o jornalismo era perfeito no passado e que vivíamos na era de ouro. Tínhamos equipas de investigação que chamavam os políticos à responsabilidade. Mas a verdade é que o jornalismo sempre foi conturbado. A tecnologia, embora esteja a causar muito transtorno, também pode ser parte da solução.
De que forma?
É uma questão de como a usamos. Podemos utilizar os algoritmos ou a inteligência artifical para perceber melhor o que cada pessoa quer. É bom sermos capazes de direcionar a informação e os conteúdos relevantes para cada pessoa. Se as pessoas querem conteúdo de qualidade, e se os algoritmos nos podem ajudar a dar-lhes isso, então é ótimo. Mas a maior parte das empresas de comunicação não estão a usar isto. Se formos à maioria dos sites, a primeira página é igual para toda a gente. Isso, na verdade, é tonto. Não é muito inteligente. Não é isso que as pessoas querem. A razão pela qual as pessoas usam Facebook é porque podem ver algo interessante e novo para elas. As empresas de comunicação têm de aprender com estes exemplos.
O mote para este Congresso é “Afirmar o jornalismo”.
É um ótimo mote. Atravessámos uma fase em que alguns dos modelos de negócio passavam por incentivar o jornalismo low cost e o jornalismo do clickbait. Isso está a mudar. Hoje em dia, alguns dos incentivos financeiros recompensam o tempo que as pessoas se demoram num artigo. O público percebeu que, num mundo de abundância, em que se pode receber todo o tipo de informação, a qualidade realmente importa e é algo por que vale a pena pagar.
Que três estratégias sugere para que este mote se torne realidade em 2017?
Em primeiro lugar, usarmos sempre as novas possibilidades [tecnológicas] para fazer chegar a informação à pessoa certa, no momento certo. Por isso, usarmos a tecnologia seria a primeira ideia.
Depois, a questão da verificação da informação. Se há muita informação errada a circular, podemos usar a nova tecnologia para produzir informação com mais qualidade e para criar algo em tempo real a dizer “isto não é verdade”. Por último, agarrarmo-nos aos nossos valores e princípios. As pessoas estão interessadas em celebridades e futilidades, mas também procuram histórias sérias e interessantes. Devemo-nos lembrar disso e deixar de pensar que o público já não quer saber dessas coisas.
Portanto, a tecnologia é a chave?
Sim. Em vez de nos deixarmos esmagar por tudo o que se está a passar e pelas tecnologias em desenvolvimento, devemos ter uma visão muito clara do que queremos, do que defendemos e de quais são os nossos valores. E depois usar a tecnologia a nosso favor.