Precários, mais qualificados do que há sete anos e desmoralizados. Estas são três das características apontadas aos jornalistas portugueses a partir do maior inquérito à classe já realizado em Portugal: “Os jornalistas portugueses são bem pagos?”. O estudo, respondido por cerca de 1500 pessoas, foi conduzido por uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Observatório da Comunicação, vai ser apresentado no terceiro dia do 4º. Congresso dos Jornalistas Portugueses.
A inexistência de fortes vínculos contratuais é o principal indicador da precariedade na classe: um em cada três jornalistas trabalha sem contrato fixo e 26% está a “recibos verdes”. Para além disso, a maioria dos profissionais trabalha entre 35 a 40 horas semanais. No entanto, apenas cerca de 4% dos jornalistas diz ser remunerado pelas horas extraordinárias que faz.
Como principais condicionalismos à profissão, os jornalistas apontam a agenda, as condições de trabalho e o salário. Apesar do rendimento médio dos jornalistas inquiridos ser de 1.113 euros líquidos, mais de um quinto dos profissionais recebe menos de 700 euros mensais. Miguel Crespo, do CIES, diz que estas percentagens o surpreenderam: “É negativo que mais de 50% receba menos de mil euros por mês, especialmente tendo em conta que a maioria trabalha mais de 40 horas por semana e que quase 80% é licenciado.”
Ao todo, mais de três em cada quatro jornalistas têm uma licenciatura ou um bacharelato – um número superior à média nacional. No polo oposto, há 20,4% de jornalistas que apenas frequentaram o ensino secundário.
Ânimo em baixo
De acordo com os autores do estudo, as más condições de trabalho geram uma desmoralização geral. Quase dois terços dos atuais titulares de carteira profissional já pensaram, pelo menos uma vez, em abandonar a profissão. Principais motivos: baixo rendimento, degradação da profissão e precariedade contratual.
Apesar de apenas 90,5% dos jornalistas considerarem improvável voltar a encontrar emprego em menos de um ano, os números indicam o contrário: dos inquiridos que já estiveram desempregados, quase dois terços encontraram emprego em menos de um ano. Destes, um terço conseguiram-no em menos de seis meses.
Quanto à autonomia da profissão, são os factores internos que mais afetam os jornalistas: 31,5% dizem ser pouco ou nada autónomos em relação às decisões das chefias e 41% em relação às decisões das administrações.