Soube a pouco e ficaram muitas questões por aprofundar. Conferimos a visão dos congressistas após a sessão que esta sexta-feira envolveu 19 diretores portugueses.
Pela primeira vez uma mesa redonda contou com 19 diretores de media portugueses. A sessão moderada por Adelino Gomes contou com Afonso Camões (JN), António Costa (ECO), António Magalhães (Record), Arsénio Reis (TSF), David Dinis (Público), Graça Franco (RR), João Paulo Baltazar (Antena 1), José Manuel Ribeiro (O Jogo) Mafalda Anjos (Visão), Miguel Pinheiro (Observador), Paulo Baldaia (DN), Paulo Dentinho (RTP), Pedro Camacho (LUSA), Pedro Santos Guerreiro (Expresso), Raul Vaz (Jornal de Negócios), Ricardo Costa (SIC), Rui Hortelão (Sábado), Sérgio Figueiredo (TVI), Vítor Serpa (A Bola). Vítor Rainho (i/Sol) não esteve presente.
O debate coincidiu com a hora de almoço e, talvez por isso, a sala inicialmente bem composta, tenha chegado ao final mais “despida”.
No programa estava prometida uma mesa redonda, mas em cima do palco, a disposição era outra. Aquilo que Adelino Gomes apelidou de “missão impossível”, foi abordado com humor por Sérgio Figueiredo, diretor da TVI, na sua primeira intervenção:
“Eu já estive em muitas mesas redondas que não eram redondas, mas nunca tinha estado num pelotão de fuzilamento.”
As respostas tinham de ser breves mas as questões levadas a debate foram muitas: a precariedade da profissão, a crescente evolução da tecnologia, a oferta de conteúdos gratuitos, a desvalorização da profissão, a diferença de género nos cargos de chefia das direções, os recursos e as redes sociais como uma fonte de informação. A sessão durou cerca de duas horas e meia.
A visão dos congressistas
Diana Andringa, que assistiu da plateia, considera que o número de diretores presente era excessivo. “Na minha opinião não há mesas redondas com 20 pessoas. Para mim uma mesa redonda é um sítio onde se discute. Eu percebo que é necessário ouvir todos, mas acho que estamos a sofrer um bocadinho daquilo que é não ter havido Congresso durante tanto tempo”, disse. A ex-jornalista aponta algumas questões, que na sua opinião são fundamentais e que ficaram por debater:
Na era em que se discute a pós-verdade e o papel das redes sociais, a ex-jornalista questiona: “Então como é que fazem ou reagem quando dão uma notícia errada?”
“A questão da crítica e da autocrítica é muito importante por uma razão: estamos a falar da credibilidade”, sublinhou para mais à frente dar o exemplo do Arrastão de Carcavelos.
Anabela Neves, jornalista na SIC, também esteve na plateia e faz uma analogia para descrever aquela que, na sua opinião, foi uma mesa redonda com demasiados participantes: “Foi tentar meter o Rossio na Rua da Betesga (…) A Rua da Betesga é uma rua muito pequenina e por isso meter lá o Rossio é uma coisa impossível.” Apesar disso, admite compreender “a necessidade de dar voz a tanta gente” uma vez que “os diretores estão na linha da frente daquilo que vai para o ar, daquilo que as pessoas ouvem na rádio e daquilo que as pessoas lêem.” Salientou também o pouco tempo que foi disponibilizado para as perguntas: “as pessoas querem perguntar coisas e estão a perguntar coisas com muito interesse e assim falta o diálogo com a plateia.”
Relativamente às percentagens de tempo atribuídas por cada diretor às diferentes funções que desempenham (questões editoriais, conversas com jornalistas e questões de marketing e publicidade), Anabela Neves refere que “os diretores acima de tudo são gestores. Gestores não só da informação, mas gestores financeiros até. Ainda por cima gestores em tempo de vacas magras, em tempo de crise da comunicação social, tanto a nível nacional como mundial. Portanto têm que distribuir o seu tempo e isso depois reflete-se no jornalismo.”
Teresa Conceição, jornalista na SIC, acrescenta que “foi honesto da parte de alguns terem atribuído as percentagens que atribuíram” e diz que “todos temos muito pouco tempo. Há poucas pessoas nas redacções” e que os diretores acabam por ter de conseguir distribuir o seu tempo ainda que muitas vezes se sinta a sua falta nas redacções. A jornalista diz que “se alguém não estivesse ali ia perguntar-me porque é que aquele não estava” e por isso considera positivo terem estado todos presentes. Ainda assim salvaguarda que não foram abordadas todas as problemáticas porque com tantas pessoas, as questões tinham de ser curtas e breves “mas é por isso que ainda estamos só no segundo dia”.
Emanuel Câmara, jornalista desempregado, considera que a sessão “Permitiu fazer uma radiografia do funcionamento das redações, tanto em televisão, [como em] rádio e imprensa.”
Rita Cerqueira, estudante na Licenciatura de Ciências da Comunicação (vertente de Jornalismo) na Universidade do Porto, diz que “esta mesa redonda poderia ter funcionado se fosse dispensado um dia inteiro só para este debate” e considera que teria sido interessante “falar da ética e da deontologia”, ainda que saiba que “vai haver uma sessão específica sobre isso, mas eu acho que sendo esta a base do jornalismo então devia ter sido aprofundada na mesa redonda.”
Ana Rita Costa, estudante na Licenciatura de Ciências da Comunicação (vertente de Jornalismo) na Universidade do Porto, também concorda com o número excessivo de intervenientes e salienta que o jornalismo é um direito e, por isso, não acha que o jornalismo gratuito seja algo negativo. Quando questionado sobre a percentagem de tempo que dedica a questões editoriais, a reuniões com jornalistas e a questões de marketing e publicidade, “o director da SIC considerou a pergunta pouco pertinente porque todos os jornalistas sabiam a resposta. Mas a verdade é que grande parte da plateia eram estudantes interessados no assunto e que gostariam de saber a resposta à pergunta. Porque nós, como estudantes não sabemos em primeira mão aquilo que se passa numa redação.”
Pedro Afflalo, estudante de Mestrado de Jornalismo na Universidade da Beira Interior, concorda com os restantes e diz que ficou com a sensaçao de que “queriam discutir tudo mas não conseguiram discutir nada”.