Quase 60% dos jornalistas são formados em Comunicação Social ou Jornalismo. A especialização obrigatória na área não é consensual entre os profissionais do setor, mas ganha força entre os mais jovens. Estas são algumas das conclusões de inquérito levado a cabo por João Miranda, da Universidade de Coimbra.
O número de jornalistas em Portugal evoluiu de maneira positiva até 2006. A partir daqui, a tendência inverteu-se, tendo baixado 15,7% até 2014. “Esta quebra desenvolve-se sobretudo por falta de ingresso de jornalistas na profissão”, refere João Miranda, que apresenta esta sexta-feira, no Congresso dos Jornalistas, o estudo “Retratos de uma profissão indefinida. Resultados de um inquérito aos jornalistas”.
Dos inquiridos, 38,8% são redatores/repórteres. Quase metade do número de editores/coordenadores de secção (16,5%). Segundo o docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o setor é sobretudo masculino, embora a taxa de feminização tenha aumentado nas categorias mais jovens. Ainda assim, costuma ser “abandonado relativamente cedo”, defende.
A maioria dos inquiridos é licenciada (31,7%). Porém, perto de 1800 inquiridos não têm formação superior. Dentro dos jornalistas licenciados, grande parte formou-se em cursos de Jornalismo (27,2%) ou Comunicação Social (32,2%). Nota ainda para 40% de respondentes com especialização noutras áreas – filosofia, gestão, contabilidade e cinema são as mais recorrentes.
Ao contrário do que acontece na atualidade, 64,6% entende que a prática do jornalismo deve exigir uma formação superior. Mas apenas 39,2% consideram que essa formação deve ser especializada em cursos de jornalismo. “É uma questão que foi levantada aquando da revisão do Estatuto do Jornalista”, lembra o investigador. Ao cruzar com o indicador da idade, o inquérito conclui que são os mais jovens a querer a especialização.
Paulo Martins, docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, diz que não se deve exigir uma formação exclusiva no jornalismo. “Ficamos todos a ganhar enquanto sociedade se mantivermos este modelo de profissão aberta. Precisamente para que as redações tenham jornalistas provenientes de várias áreas que podem enriquecer a leitura e a percepção dos acontecimentos”, aponta o docente.
De acordo com o inquérito, 90% dos inquiridos não dispensa a obrigatoriedade da carteira profissional.
O estudo de João Miranda surge no âmbito de uma tese de doutoramento sobre a autorregulação profissional do jornalismo. Desenvolvido em 2015, foi respondido por 806 profissionais de todo o país. Além da especialização no setor, aborda ainda a precariedade do jornalismo português, os baixos salários e o abandono precoce da profissão.